Os temperos de uma República


Por Fernando de Souza Martins

Não lembro de ter visto, sequer uma vez, o discurso pela necessidade de independência entre os poderes e instituições, ser contraposto ao imperativo republicano de freios e contrapesos. Mas é justamente a lição de que nenhuma dessas instituições democráticas podem ter liberdade irrestrita ou terem sua capacidade de exercerem seu papel fragilizada que precisa ser apreendida nesse nosso momento histórico, dado que cometemos os dois erros no passado: liberdade demais já foi usada para oprimir e fragilidade demais já se tornou oportunidade para abusos.

Temos que aprender a nos comunicar sem medo sobre a necessidade de controle e sobre a responsabilidade intransferível e soberana de algumas instituições, no sentido de nem nos permitirmos sermos mal entendidos ao criticar, ou efetivamente, frear uma instituição, lembrando sempre que as vezes esse movimento é necessário para que o seu papel real seja resguardado no jogo democrático.

Assim, por exemplo, faz-se imprescindível o combate a atitudes que ferem a autonomia da imprensa, mas ao mesmo tempo não podemos a proteger tanto que ela se esqueça que merece e deve ser criticada pontualmente. Principalmente, não podemos aceitar que a crítica a imprensa seja confundida com rompantes violentos contra seus membros, sejam esses físicos ou figurativos. Não podemos confundir quem eventualmente critica e quem tenta silenciar. É a diferença entre diálogo maduro e o esperneio despótico de líderes ineptos para o jogo democrático: as instituições precisam aprender que para se estabelecerem de forma madura no jogo democrático, precisam diferenciar quem é duramente crítico e quem é duramente despótico.

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