Compreender a realidade é ir além de nós mesmos


Por Reginaldo Bacci

Um amigo me acorda e diz: o Lula está na capa da Time. Eu respondo: sim, faz sentido, se fosse o Trump o presidente dos EUA seria o Bolsonaro. Ele responde: Como assim?

Eu explico:

Primeiro ponto a observar é que precisamos compreender a política para além dos nossos umbigos. O Brasil está dentro do tabuleiro mundial da geopolítica econômica. Não jogamos para dentro e sim para fora, o que significa que somos manipulados todo o tempo. A nossa margem de manobra interna é estreita, para andarmos nesse tabuleiro onde somos apenas mais um peão.

Segundo ponto a ser observado é que mídia é mídia em qualquer lugar do mundo. Ela sempre estará atuando a favor dos interesses dos poderosos e não dos trabalhadores, dos oprimidos e dos necessitados. Assim, se o Lula está na capa da Time, todos nós trabalhadores brasileiros deveríamos ficar atentos e desconfiados.

Terceiro e último ponto para não me alongar. Sendo direto e objetivo, tanto Bolsonaro como Lula já estão sob a égide dos EUA! Para eles (EUA) o importante é a subserviência aos interesses e capital americanos! Esses dois candidatos servem para os EUA! Portanto, eles não precisam se meter no nosso jogo de xadrez interno, onde olhamos apenas nossos próprios umbigos. Neste momento, os EUA preferem o Lula ao Bolsonaro, já que o Lula está mais próximo da ideologia do Partido Democrata. Se o Trump tivesse sido reeleito a preferência seria o Bolsonaro, e ele estaria na capa da Time! Relaxa, já estamos dominados!

Meu amigo pergunta quase aos gritos no telefone: como pode isso??? Como o Lula e o Bolsonaro podem servir aos interesses dos EUA?

Calmamente respondo: Simples. Lula esteve 8 anos no poder e não reverteu o processo de desindustrialização – que impacta diretamente na vida social e econômica do nosso povo. Lula não combateu os bancos e os conglomerados financeiros – ao contrário, estimulou e os bancos nunca lucraram tanto.

Lula nunca mais tratou da auditoria da dívida pública brasileira. Lula não instituiu o imposto sobre grandes fortunas. Lula não desonerou de impostos os pobres e a classe média brasileira, ao contrário, manteve um sistema tributário perverso e regressivo, onde quanto mais pobre você é, mais imposto você paga. Enfim, Lula não fez as reformas que o país precisava, não enfrentou os graves problemas estruturais que ainda persistem e colocam de joelhos o nosso povo.

Lula é ruim? Não. Lula não é um líder popular? Claro que é. Tem méritos? Sim, mas foi um Estadista? Não, não foi um Estadista. Bolsonaro é pior que o Lula? Com certeza. Pois além de não ter tocado em nenhum dos pontos que o Lula também não tocou, ainda agravou a já famigerada crise econômica e social, que agora vem devolvendo para a miséria milhões de irmãs e irmãos brasileiros. Bolsonaro é péssimo Presidente? Sim. Bolsonaro é um líder popular da extrema direita brasileira? Sim. Bolsonaro tem méritos? Poucos, no seu governo escapam um ou dois ministros. Bolsonaro é um Estadista? Não. Não é um Estadista e nunca será.

Então por que não votas no Lula? Pergunta-me aos gritos o meu amigo. Eu respondo: a escolha entre o ruim (Lula) e o péssimo (Bolsonaro) nos levará a uma armadilha política, cuja consequência saberemos em breve. Não perceber isso é zombar da democracia e não conseguir ir além do próprio interesse (umbigo).

A solução é ter uma terceira via que realmente seja capaz de reconstruir o Brasil e unificar a nação e desta forma quebrar as narrativas tanto de um lado como de outro. Neste momento, Ciro Gomes tem a coragem e o conhecimento para peitar os “interesses internacionais”, como diria o nosso saudoso Leonel de Moura Brizola, que rondam o nosso país.

Eu aposto em Ciro Gomes. Eu voto em Ciro Gomes. Depois que venha o segundo turno, de preferência com Ciro Gomes, para que o Brasil possa primeiro se unificar em torno de um novo e grande Projeto Nacional de Desenvolvimento e, na sequência, deixar para trás todas as feridas abertas na nação brasileira por dois pensamentos que colocam seus interesses mesquinhos à frente dos interesses coletivos de nosso País.