
Por que Ciro, e não Lula, tem de desistir da campanha em 2022? A hipocrisia petista e a verdadeira missão de um novo governo em 2023
Por Renato Mello*
Longe do Brasil há três longos anos, assisto à batalha pela recuperação da democracia no país. O que o governo de Bolsonaro vem fazendo em todos os setores é algo que nem o cidadão mais pessimista poderia imaginar quando terminou a eleição em 2018, por mais que soubéssemos de seu despreparo, seu autoritarismo… enfim.
Nesses três anos de (des)governo absoluto, o pior que vivenciamos desde a ditadura militar – que o miliciano que ocupa a cadeira mais importante do Brasil insiste em chamar de “Revolução”-, vimos o desprezo à vida humana com as não-ações em relação à pandemia, com um saldo de mais de 660.000 mortos; a corrupção disparar com “orçamentos secretos”; blindagem dos filhos e de apoiadores; farra do cartão corporativo (colocado em sigilo, “claro”); ataques às instituições; tentativas de golpe, de desqualificação do nosso sistema eleitoral, além de – pior de tudo – vermos nosso povo com piores condições de vida. Desemprego galopante, saúde e educação cada vez mais precárias,o pior salário mínimo das últimas décadas, enfim… tudo piorou absurdamente!
A conclusão óbvia é: Não dá mais, esse cara TEM de sair. Isso é claro e cristalino.
O CAMINHO NÃO SERÁ FÁCIL
E eis que estamos em ano eleitoral, faltam 5 meses para expulsarmos o demônio do Palácio do Planalto, e se apresentam alguns rostos bem conhecidos novamente para a disputa. Além do próprio ocupante atual da cadeira, dois outros se destacam: Lula, do PT, enfim livre leve e solto para tentar sua terceira vitória na corrida presidencial (concorrendo pela 6ª vez); e Ciro Gomes, do PDT, que ainda não obteve êxito para esse cargo, e concorre pela 4ª vez.
Algum desavisado do exterior talvez imagine que, considerando o retumbante fracasso do atual “governo”, seria mais interessante justamente todos votarmos, em uma “linda e grande união nacional da esquerda” em Lula, com a formação de (mais uma) “Frente Ampla pela Democracia” – posto que Lula já governou o país 2 vezes, e seria do campo da esquerda.
Esse mesmo desavisado estrangeiro iria ainda mais longe: não veria sentido em uma candidatura de Ciro Gomes, liderança importante do campo progressista, respeitado por seu extenso currículo na vida pública, um homem que já foi Prefeito, Governador, Ministro 2 vezes (uma delas do próprio Lula), Deputado Estadual e Federal, Secretário de Saúde, além de alto executivo de uma importante companhia privada do país. E para fechar com chave de ouro, Ciro é ficha limpa, nunca tendo sido processado por corrupção nem mesmo para ser absolvido. Ora, um apoio desses seria excepcional e faria com que o atual “governante” saísse já no 1º turno. Certo? Realmente.
Só que como disse anteriormente, esse “sonho” só caberia na cabeça do desavisado estrangeiro. Aliás, para ser justo: na cabeça deste e da militância fervorosa que torce para outra eleição de Lula.
“Ora, mas por quê? Você mesmo deu todos os motivos! Se o principal motivo dessas eleições é tirar o cara de lá, então está resolvido… é só Ciro retirar sua candidatura, se unir a Lula, e o ‘sonho dourado’ vira realidade” … Infelizmente as coisas não são BEM assim.
O LEGADO PETISTA
Acontece que o desavisado estrangeiro desconhece – e o militante “torcedor” de Lula esquece – que o atual governante só “governa” justamente porque existiu uma sequência de governos petistas entre 2003 e 2016! Sim, não dá para fingirmos que Bolsonaro não surgiu como uma alternativa aos governos do PT. Que tinha arrebentado com o país, que tinha colocado o desemprego lá no alto, a taxa de juros também; os mesmos governos que fizeram com que os bancos lucrassem como NUNCA, concentrando nas mãos de apenas 5 pessoas o valor de 100 MILHÕES das pessoas mais pobres e miseráveis do país; esses governos também foram os que deixaram quase 70 MILHÕES de pessoas com o nome sujo, por causa dos mesmos bancos que cobram juros absurdos; os mesmos bancos privilegiados pelos governos Lula e Dilma, que sucedeu seu mentor.
“Mas você está sendo injusto; os governos do PT fizeram coisas boas também” … claro. Fizeram sim. Mas por pouco tempo. Deram um “cala boca” no povão que durou alguns anos, com a explosão das commodities, expansão do crédito etc. Depois que o preço delas caiu, o povo voltou à miséria. Quem tinha provado o gostinho de sair da miséria e ter seu negócio, poder viajar, investir em alguma coisa, fazer uma poupança, se viu novamente jogado na mesma pobreza de antes. E veio a raiva. A mágoa. Sensações causadas pelo desespero e o rancor de terem conhecido uma vida melhor, e terem de voltar a uma vida que nunca mais queriam lembrar.
E em meio a todo esse rancor, começaram a ansiar que surgisse alguém para “vingá-los”, para que pudessem voltar a ter uma vida melhor. Só não poderia ser um representante daqueles que os fizeram passar por aquela humilhação!
E assim nascia o Antipetismo!
Em 2018, esse sentimento ficou claro: Bolsonaro surge como o grande “representante antipetista”. Em 09/01/2018, um dos grandes “caciques petistas”, Jacques Wagner, tinha percebido que o melhor caminho para o PT era justamente lamber as feridas e não lançar candidato, mas sim apoiar alguém do campo progressista. Em vão. A parcela radical do partido, liderada por Lula (que estava preso), insistiu na manutenção da candidatura Lula!!! Todos sabiam que ele estava inelegível, mas lançaram a farsa; ao fim e ao cabo, Haddad aos 45 do 2º tempo se torna o candidato e perde para Bolsonaro. Um dado importante é que TODAS as pesquisas mostravam, sem exceção, que o ÚNICO candidato que derrotava Bolsonaro no 2º turno era Ciro Gomes. E ainda assim, o PT manteve a candidatura para a derrota certa. Como fizeram em 1989, como Brizola. Nada de novo…
A DECISÃO DE CIRO GOMES
Mas como autocrítica no PT é uma palavra desconhecida – e mais, algo jamais praticado – a “culpa” pela derrota caiu em … Ciro! Tudo porque o Pedetista não quis subir no palanque petista, ainda que Ciro e o PDT tenham dado apoio crítico a Haddad no 2º turno. “Ora, mas deveria ter ido! Era preferível eleger o boZo?”…
Essa é a pergunta de 1 milhão de dólares. A ela então:
O ponto central é que o PT não foi simplesmente ao 2º turno; o partido foi acompanhado de pessoas que simplesmente 2 anos antes foram as responsáveis diretas pelo impeachment de Dilma! Estavam lá, aos abraços e sorrisos, de mãos dadas levantadas aos céus no mesmo palanque: Haddad com Renan Calheiros, Eunício Oliveira… esses dois os senadores que presidiram o impeachment da presidente em 2016! Tempos depois, para piorar a situação, Haddad ainda solta a famosa frase “Golpe é uma palavra muito dura”! Ora, mas foi ou não foi golpe? Quando era conveniente foi, e quando não era mais deixou de ser? Tudo isso para justificar as alianças espúrias em nome simplesmente de um projeto de poder?
Cabe ressaltar: Ciro sempre lutou contra o impeachment de Dilma – ainda que tivesse críticas duras a seu governo, e com razão. E sempre foi coerente. Não ia se juntar com quem criticou tão duramente por ser responsável por um golpe de Estado. E não só: por serem figuras conhecidas por práticas de corrupção. Isso seria sujar sua imagem e sua trajetória. E até hoje paga o preço. Com muito orgulho e honra, diga-se, já que prefere ser atacado mas ter a consciência limpa, do que “vender a alma” para outros se manterem simpáticos a ele.
AS ELEIÇÕES DE 2022 E A FALÁCIA LULOPETISTA
E chegamos a 2022.
Lula está livre. É candidato.
Ciro sempre esteve livre, e é novamente candidato.
E Bolsonaro disputa a reeleição.
O Lula e Bolsonaro, segundo as pesquisas – que somente bancos contratam, estranhamente – lideram com grande diferença para Ciro. E essa “liderança absurda” provocou um fenômeno nas redes sociais: petistas de todas as classes começaram a defender a retirada da candidatura de Ciro Gomes para que se garanta a vitória de Lula ainda no 1º turno. Mas não é simplesmente um “pedido de retirada” da candidatura; começaram a dizer que “Quem não é Lula nem Bolsonaro É Bolsonaro”! Uma tentativa antecipada de, em caso de derrota, já terem – de novo – a quem culpar. E pegaram pesado, arregimentando um enorme exército de “verificados”; artistas e influenciadores das mais diversas áreas entraram na onda, fazendo pressão para que Ciro desista de sua candidatura, ao mesmo tempo que tentam “converter” votos ciristas para Lula, com a falácia que “Só Lula vence o fascismo”. Interessante é que as mesmas pesquisas que os defensores de Lula creem tanto, apontam que Ciro TAMBÉM vence Bolsonaro no 2º turno. Ora, se assim o é, QUAL O MOTIVO para se pedir somente a desistência de Ciro do pleito? “Essa é simples … Lula está na frente! Então é mais fácil Ciro desistir, né?”, diria um lulista com toda a força do seu ser. Ledo engano. Não? Vamos lembrar algumas questões então:
- A rejeição de Lula é MUITO maior que a de Ciro;
- Ciro não tem de explicar NADA em relação a questões de corrupção e/ou escândalos;
- O PT e Lula não tem nenhum projeto para o país; o candidato chegou ao cúmulo de dizer dias atrás que “não se discute economia antes das eleições”;
- O próprio PT, que adora tentar descredibilizar/ridicularizar o projeto de Ciro, COPIOU muitos pontos do programa de governo dele ainda em 2018 e colocou no programa de governo de Haddad, mudando apenas o nome. Agora, em 2022, começou a verbalizar ideias que Ciro sempre defendeu e que o PT, em 14 ANOS de governo, teve chances de colocar em prática e, no entanto, jamais se moveu para concretizar UMA que fosse;
- Ao contrário de Ciro, Lula age como Bolsonaro, já antecipando que não deve participar dos debates – como fez em 2006, por sinal – e, estranhamente, o PT e os petistas que criticaram tão duramente Bolsonaro em 2018, dizendo que este praticava um “desserviço à democracia não indo aos debates para o principal cargo do país” … agora LEGITIMAM a não participação de Lula nos debates…(?)!
- Junte todos esses argumentos e só poderá chegar a uma conclusão: Ciro chegando ao 2º turno, teria muito mais credibilidade do que Lula. E o argumento principal: Ora, se os dois derrotam Bolsonaro no 2º turno; se unir os votos dos 2 derrotaria Bolsonaro em um 1º turno; e se Ciro tem mais credibilidade que Lula por não ter de explicar Pallocci’s, Mensalões, Petrolões e afins; e se é VERDADE como pregam os petistas que “a principal missão é tirar Bolsonaro”… nada mais coerente que colocar quem tem PROJETO, vida pública LIMPA e de total ÊXITO, sem NENHUM DIA DE DÉFICIT para cumprir esta missão, não…?
TIRAR BOLSONARO DEVE SER APENAS O PRIMEIRO PASSO
Agora, um ponto para refletirmos juntos, que Ciro coloca sempre:
Não, nossa principal missão NÃO é SÓ tirar Bolsonaro. Vai muito além disso.
Temos de tirá-lo? Óbvio que sim. Mas também temos de, ao fazer isso, ter um plano para RECUPERAR o país do buraco em que se encontra. Buraco esse que foi iniciado lá atrás pelo PT e que vem sendo agravado e muito por Bolsonaro. As coisas estavam um “mar de rosas” ao fim do governo petista? Sejamos sinceros: não, não estava. Foi justamente isso que deu condições para que Bolsonaro surgisse como alternativa, como dito anteriormente aqui.
A indústria estava a todo vapor? Empregos estavam nas alturas? Os juros baixos? O salário mínimo estava bom? As condições de vida da população eram ótimas? A educação, o saneamento básico, a segurança pública, o comércio etc. estavam tendo a atenção merecida? NÃO! Não estavam! “Ah, mas hoje está muito pior…”! Claro! Isso não se discute! Mas por isso vamos pegar 2 ruins e colocarmos para escolher entre eles? Não seria mais inteligente escolhermos entre quem já tem experiência de êxito nessas áreas todas? Basta ver o desenvolvimento do Ceará em todas elas. Ou analisar Ciro Como Ministro da Fazenda, onde produziu o maior superávit primário da história do país! Ou como Secretário de Saúde do Estado, onde foi premiado pela UNICEF pelo combate à mortalidade infantil. Ou como governador, onde deu as bases para a melhor educação pública do Brasil. “Mas governar um país é diferente”… Se formos dar crédito a essa falácia, Lula então JAMAIS poderia ter sido eleito. Nunca tinha ocupado um cargo executivo. Então, por gentileza, que os petistas usem outro argumento.
Estamos apenas em maio. Há muito chão a se percorrer ainda. Cabe lembrar: Nessa mesma época em 2018, NINGUÉM cria em Bolsonaro eleito; Ciro tinha apenas 4 pontos percentuais – hoje tem entre 8 e 10.
A campanha ainda nem começou. Alianças ainda são discutidas. Não há propaganda de rádio e TV neste momento. Não há debates. Consequentemente… não há razão para se pedir a retirada deste ou daquele candidato. Muito menos quem confia tanto no seu e ironiza tanto a porcentagem do outro (não é estranho que ao mesmo tempo “rezem tanto” para que saia?).
Vamos com calma, confiança, fé e acreditando no MELHOR – e ÚNICO PROJETO apresentado para desenvolver o Brasil.
Torço sinceramente para que outros não necessitem fazer como fiz… sair do país com minha família por ver que o Brasil não daria condições para dar um futuro ao meu filho. E não creio que isso venha a ocorrer votando em “picanha e cerveja” como mote de campanha. Ou sem discutir economia antes das eleições. Muito menos se agarrando umbilicalmente com o pior da política que o país tem a oferecer (Geddell , Jucá, Calheiros, Eunício, Sarney, Isidório, et caterva mandam lembranças). Creio que somente com um Projeto Nacional de Desenvolvimento como o de Ciro Gomes, onde está bem detalhado de onde vem o dinheiro, prazos, como fazer, metas etc. Transparente, sem rodeios, colocando o povo no meio.
É o quer espero ver.
Que em 01/01/2023 possamos ver quem tanto merece subindo a rampa do Palácio do Planalto. Que essas trevas que habitam o país deem lugar à esperança. Que Ciro Gomes possa enfim ajudar o país. Porque nem o passado (Lula) nem o presente (Bolsonaro) se mostraram eficazes transformar o Brasil, colocando-o enfim no século XXI, e muito menos mostraram como unir a nação. Só a dividiram.
Que miremos um novo caminho, elegendo enfim Ciro Gomes em outubro!
Um grande abraço a todas e todos,
Saudações Trabalhistas!
*Renato Mello é Professor de Artes formado pela Faculdade de Artes Cênicas da UFMG. Lecionou de 2007 a 2019 tanto no Estado de Minas Gerais quanto na Prefeitura de Sabará. Há 3 anos vive no Japão – agora como trabalhador de fábrica -, mas sem deixar de acompanhar a vida política brasileira todos os dias. Filiado ao PDT-MG desde outubro de 2018.