Ciro Gomes, os universitários e as camadas populares


Texto de: Rhodner Paiva.

Eu, Rhodner Paiva, participo de vários grupos no Whatsapp com divulgadores da campanha do pré-candidato Ciro Gomes (PDT-CE) e percebi que há duas preocupações bastante recorrentes entre os camaradas: “Ciro está muito restrito aos meios universitários e não tem apelo popular” e “a linguagem de Ciro é muito rebuscada, o povo não vai conseguir entender”.

A preocupação é compreensível. Muitos acham que a estratégia adotada por Ciro e pelo PDT está errada, pois eles esperam um líder popular, que caia na graça das massas e arrebate a parte da classe trabalhadora que ficou “órfã” depois da prisão do ex-presidente Lula. Como ouvi essas observações em muitos grupos e de muitas pessoas diferentes, resolvi usar a oportunidade que a plataforma Todos Com Ciro me dá de atingir um número bem maior de pessoas que as redes sociais para divulgar minha opinião sobre o assunto. Para mim, a posição do pré-candidato e do partido está correta. Há dois argumentos fundamentais que se devem levar em conta para perceber que essa é a melhor estratégia que ele pode utilizar.

Em primeiro lugar, devemos considerar a verba do fundo partidário. O orçamento do PDT para a campanha presidencial é substancialmente menor que a de partidos com maior representação no Senado. Em números, podemos dizer que o partido terá cerca de R$ 70 milhões de reais, ou seja, um pouco menos de um terço da verba do PT, por exemplo. Desta forma, Ciro precisa influenciar formadores de opinião para poder penetrar mais profundamente nessas camadas populares, já que ele mesmo não dispõe de um jatinho particular à disposição – ao contrário de alguns de seus principais adversários – para se deslocar de um estado para outro com rapidez. Daí a importância desse trabalho que Ciro tem feito e do qual já se pode ver o resultado: figuras midiáticas como Tico Santa Cruz, Caetano Veloso e Paulo Henrique Amorim já estão embarcando na pré-campanha do pedetista, além é claro da formação de canais independentes, como a plataforma Todos com Ciro.

Em segundo lugar, ele está deixando para se aproximar das camadas populares quando a campanha começar oficialmente. Aí sim ele terá os instrumentos para isso: horário eleitoral, debates, entrevistas com as maiores mídias do país… enfim, logo chegará o tempo de se aproximar das massas. A mídia dos coronéis do país está evitando colocar Ciro em evidência, mas chegará a hora em que serão obrigados por lei a fazê-lo. Vale lembrar ainda que a opinião das camadas populares é mais volátil do que a dos mobilizadores, de forma que um pico de popularidade em momento oportuno é mais valioso do que um pico precoce que desidrate na reta final. Quem não se lembra da Marina em 2014, que uma semana antes das eleições estava praticamente garantida no segundo turno e foi ultrapassada apenas nas pesquisas boca de urna?

Portanto, camaradas, não é um “tiro no pé” dar uma palestra em Harvard em vez de estar no sindicato dos metalúrgicos, tampouco participar de debates na França afasta Ciro Gomes do “povão”. Além do que, para mim, é inconcebível que se pense que um homem inteligente como Ciro e que cresceu e se fez o que é hoje estando em constante contato com um povo sofrido como o de algumas cidades do Ceará não saiba usar uma linguagem mais “popular”. Ciro é um orador nato e poliglota de seu próprio idioma: há uma linguagem para falar com economistas e universitários e outra para falar com a população em geral. Ele está formando suas bases, esperando o momento oportuno de – com a nossa ajuda – tornar-se o Cirão da Massa.

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